Houve falta de ação da JBS em relação a alertas de desmatamento que levaram à destruição de mais de 18 mil hectares na Amazônia e no Cerrado

Sydney Jones

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Carole Mitchell

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Link para relatório e casos de desmatamento

Uma nova análise da Mighty Earth e AidEnvironment mostra que a falta de ação da gigante brasileira JBS, maior empresa produtora de carne no mundo, em relação a 68 casos de desmatamento em fazendas de gado na Amazônia e no Cerrado, que foram enviados à empresa há mais de um ano, resultou em mais 18.458 hectares de destruição de florestas tropicais e ecossistemas naturais, alguns próximos às terras indígenas – destruição esta que poderia ter sido evitada. A nova pesquisa, divulgada antes da Assembleia Geral anual da JBS em São Paulo, conclui que, no total, a JBS deixou de investigar ou de agir, de forma verificável, no tocante a 105 alertas de desmatamento – cobrindo mais de 185.000 hectares de desmatamento – nos dois biomas ameaçados.

Isso se dá no momento em que cresce a oposição ao projeto da JBS de se listar na Bolsa de Valores de Nova Iorque, dado o impacto desproporcional da gigante da carne nas mudanças climáticas e no meio ambiente. Esta semana, antes da reunião de acionistas da empresa em São Paulo, um número considerável de investidores da JBS, votando remotamente, rejeitou as resoluções para permitir que os irmãos Batista – Joesley e Wesley – envolvidos em escândalos, retornassem ao conselho da JBS S.A.

Cronologia

  • Em abril do ano passado, revelamos 68 casos de desmatamento em 59 fazendas, cobrindo mais de 125 mil hectares, ligados à cadeia de fornecimento de gado da JBS no Brasil – contudo, a JBS se recusou a agir ou a investigar. A análise foi feita com dados do DETER (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), que foram confirmados posteriormente com imagens de satélite de alta resolução.
  • Um ano depois, os dados foram reavaliados, usando-se dados de satélite anuais sobre desmatamento do sistema PRODES (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite). Dos 68 casos que identificamos, os dados do PRODES confirmaram 60 casos, com desmatamento total de 51.579 hectares, entre agosto de 2018 e julho de 2023.
  • A nova pesquisa também descobriu mais 18.458 hectares de desmatamento que poderia ter sido evitado em 22 das 59 fazendas, desde que o desmatamento inicial fora detectado. Das 22 fazendas, quatro fazem fronteira ou se sobrepõem a Terras Indígenas protegidas.
  • Em março deste ano, a Mighty Earth enviou à JBS mais 37 casos de desmatamento e conversão na Amazônia e no Cerrado, abrangendo 60.218 hectares em fazendas vinculadas à JBS.
  • Combinando a análise do ano passado com a nova pesquisa deste ano, identificamos um total de 105 casos de desmatamento ligados à cadeia de fornecimento de carne bovina da JBS no Brasil, abrangendo mais de 185 mil hectares de desmatamento.

A falta de ação da JBS

A JBS disse à Mighty Earth no ano passado que não investigaria os 68 casos de desmatamento identificados pelo DETER, insistindo que se baseava apenas nos dados do PRODES, que reporta anualmente as taxas de desmatamento. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil, INPE, afirma que ambos os sistemas são complementares e representam ferramentas poderosas para o governo brasileiro e o setor privado monitorarem, identificarem e agirem rapidamente em relação ao desmatamento.

Recentemente, a JBS afirmou à Mighty Earth que, em 88% dos 105 casos de desmatamento, não se trata, atualmente de fornecedores da JBS, e que 60% dos casos não foram encontrados no banco de dados de fornecedores de gado da JBS. A empresa alega que os restantes 12% atuam em conformidade com as políticas de aquisição de gado da JBS e estão qualificados para vender gado à empresa. No entanto, a JBS não forneceu nenhuma evidência para comprovar ou fundamentar essas alegações.

João Gonçalves, Diretor Sênior (Brasil) da Mighty Earth, declarou:

“Ao não agir, a JBS permitiu a destruição, que poderia ter sido evitada, de mais de 18.000 hectares na Amazônia e no Cerrado, em fazendas ligadas às suas extensas operações de carne bovina. Nossa pesquisa mostra que a JBS continua a destruir a natureza para o gado com impunidade, ameaçando as comunidades indígenas, causando um aumento na grilagem de terras e aumentando a poluição climática. Apelamos aos investidores da JBS, reunidos hoje na assembleia de acionistas da empresa no Brasil, para que votem contra o retorno dos irmãos Batista, que sofreram escândalos, ao conselho de administração e para que bloqueiem a proposta de listagem da JBS na Bolsa de Valores de Nova York devido ao seu impacto desproporcional sobre a Amazônia e as mudanças climáticas.”

Mighty Earth conclama a JBS a:

  • Utilizar sistemas de alerta precoce, como os dados do satélite DETER, para detectar o desmatamento em seus estágios iniciais e dar uma resposta com urgência e total transparência.
  • Agir imediatamente em caso de alertas de desmatamento que tenham sido confirmados por imagens de satélite, suspendendo os fornecedores envolvidos em práticas de desmatamento para assim impedir qualquer desmatamento e conversão no nível de 10 hectares, antes que estes cheguem ao nível de 1.000 ha ou 10.000 ha.
  • Estabelecer um mecanismo público de denúncia que documente o que a JBS está fazendo para investigar os casos, e a situação dos supostos casos de desmatamento ou denúncias referentes aos direitos humanos bem como todas as ações tomadas em relação a cada caso.
  • Atualizar a política da JBS para acabar com o desmatamento e a conversão de todas as áreas e biomas em sua cadeia de fornecimento direta e indireta até janeiro de 2025, para proteger integralmente todos os ecossistemas naturais, as pessoas e os animais silvestres.

A nova análise vem à tona no momento em que milhares de indígenas se reúnem em Brasília, no Brasil, para o 20o Acampamento Terra Livre. Eles pedem “medidas para eliminar os impactos das cadeias de produção e exportação de commodities nos Territórios Indígenas, incluindo a adoção de um sistema nacional de rastreabilidade e o endosso de regulamentações internacionais que busquem promover cadeias de produção livres de desmatamento e de violação de direitos”.

Fim

Notas aos Editores:

Uma versão anterior deste relatório indicava 16.843 hectares de desmatamento adicional em 21 fazendas. Os números atualizados refletem a inclusão de dados recentes do PRODES para o bioma do Pantanal.

 

O que é o DETER?

O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real, ou DETER, fornece alertas diários de desmatamento com resolução espacial média, para que as autoridades ambientais brasileiras possam identificar e inspecionar rapidamente novas áreas de desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Como sistema de alerta precoce, o DETER permite um sistema de monitoramento de desmatamento de resposta rápida para assim localizar desmatamento ilegal a partir de 3 hectares. Analistas argumentam que os alertas do DETER funcionam como uma sólida rampa de lançamento para a investigação do desmatamento em tempo real, especialmente quando confirmado visualmente com imagens de satélite de alta resolução.

O que é o PRODES?

O Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite, ou PRODES, gera uma taxa anual de desmatamento referente à Amazônia e usa dados de satélite de alta resolução para identificar áreas que foram desmatadas entre setembro do ano anterior e agosto de qualquer ano corrente. As perdas são identificadas a partir de 6,25 hectares – porém, o desmatamento de áreas menores do que isso não entra na taxa anual. Os analistas dizem que o PRODES oferece estimativas sólidas das taxas anuais de desmatamento, mas não tem por objetivo realizar o monitoramento em tempo real do desmatamentoque esteja em curso no momento.

Para mais informações sobre o DETER e o PRODES, confira:

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