“Guerra contra a Natureza”: Novo relatório liga JBS à pior destruição química do Pantanal com “Agente Laranja”

Sydney Jones

Press Secretary

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Carole Mitchell

Sr. Director Communications

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Um novo relatório da Mighty Earth, em parceria com a Repórter Brasil e a AidEnvironment, liga a JBS e outros frigoríficos, como a Marfrig e a Minerva, ao desmatamento químico do Pantanal. Apelidada de “Guerra contra a Natureza”, a ameaça se soma as queimadas intensas que vem devastando o bioma desde o começo de agosto.

Um composto altamente tóxico encontrado no mortal “Agente Laranja”, usado na Guerra do Vietnã, pelos Estados Unidos, foi pulverizado por aviões para matar deliberadamente árvores e desmatar 81.200 hectares – uma vasta área quase duas vezes e meia o tamanho de Belo Horizonte – na Fazenda Soberana, em Barão de Melgaço (Mato Grosso), para abrir espaço para a pecuária. Promotores chamaram o ato ilegal de “desmatamento químico”.

A investigação, parte da série de relatórios Rapid Response, também encontrou desmatamento recente de 4.005 hectares em duas fazendas de gado no Pantanal, uma das quais está ligada a Claudecy Oliveira Lemes, o mesmo fazendeiro responsável pela pulverização do composto altamente tóxico “Agente Laranja”, 2,4-D. A investigação coloca uma de suas fazendas, a Fazenda Soberana, no centro de uma cadeia de abastecimento de carne bovina que conecta os três maiores frigoríficos com quatro grandes redes de supermercados no Brasil – Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí.

No total, Lemes foi acusado de inúmeros crimes ambientais e multado em aproximadamente R$ 2,8 bilhões – um recorde para o estado de Mato Grosso.

70 alertas de incêndio foram detectados em sua fazenda em Barão de Melgaço utilizando o sistema de monitoramento em tempo real de desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), DETER. A análise adicional de imagens de satélite confirmou que 3.447 hectares de floresta foram destruídos na Fazenda Soberana entre outubro e novembro de 2023. Além disso, o município de Barão de Melgaço é um dos mais afetados pelas queimadas que assolam o Pantanal desde o começo de agosto. O fogo já devastou inclusive trechos de áreas protegidas no município, como a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal e a Terra Indígena Perigara.

No total, a investigação conduzida pela Mighty Earth encontrou 4.651 hectares de desmatamento recente, entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, em cinco fazendas de gado nos biomas mais ameaçados do Brasil – o Pantanal (2), a Amazônia (2) e o Cerrado (1) – a grande maioria no Pantanal.

João Gonçalves, Diretor Sênior para o Brasil na Mighty Earth, disse:

“A morte deliberada de inúmeras árvores e animais selvagens no Pantanal pela pulverização aérea de um composto altamente tóxico do ‘Agente Laranja’ é uma devastadora guerra contra a natureza, sendo travada pela indústria da carne bovina.”

“Nosso estudo descobriu que, do desmatamento recente em cinco fazendas de gado que abastecem os maiores frigoríficos – JBS, Marfrig e Minerva – cerca de 86% ocorreram no Pantanal. Apesar de ser uma das maiores áreas úmidas do mundo e lar de espécies-chave como a onça-pintada, o Pantanal está em grande parte desprotegido e está sendo devastado pela pecuária.”

“Neste momento, o Pantanal enfrenta uma temporada de incêndios sem precedentes. O bioma não pode suportar incêndios e desmatamento químico desenfreado, que não apenas desfolha árvores em vastas áreas, mas também envenena ecossistemas inteiros. As grandes empresas de carne bovina precisam urgentemente suspender os pecuaristas decididos a destruir a natureza por lucro.”

Mais de 550.000 hectares de desmatamento

Como parte de uma investigação mais ampla do programa de monitoramento de desmatamento Rapid Response da Mighty Earth, foram listados 27 frigoríficos da JBS, que forneceram produtos de carne bovina para grandes varejistas como Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí, estavam ligados a quase 470.000 hectares de desmatamento e conversão na Amazônia e Cerrado entre 2009 e 2023, através de cadeias de fornecimento diretas e indiretas. Incluindo os números de nove frigoríficos da Marfrig e Minerva, a área total destruída durante esse período é de mais de 550.000 hectares.

Rastreando a carne bovina da loja à fazenda

A investigação examinou 1.641 produtos de carne bovina coletados em 120 lojas em 52 cidades do Brasil entre 12 de outubro de 2023 e 2 de fevereiro de 2024. O aplicativo ‘Do Pasto ao Prato‘ foi utilizado para rastrear os produtos de carne nas prateleiras dos supermercados até 157 frigoríficos em 21 estados brasileiros. Análises adicionais utilizando alertas de desmatamento em tempo real, monitoramento por satélite e exame dos dados da Guia de Transporte Animal (GTA) sobre o movimento de gado das fazendas para 36 frigoríficos destacam a escala de suas conexões com o desmatamento.

No caso do Carrefour, o relatório revela que a empresa comprou carne de mais da metade (56%) dos frigoríficos da JBS listados, o que significa que o gigante do varejo francês ainda está potencialmente ligado a práticas arriscadas de abastecimento de carne, apesar de ter feito alguns progressos ao bloquear 177 fazendas irregulares na Amazônia no ano passado e, como um marco global para um varejista, ter estabelecido uma Forest Transparency Platform. Em seu direito de resposta à Mighty Earth, o Carrefour afirmou que já havia bloqueado duas das cinco fazendas e três delas não estavam em seu banco de dados. O varejista disse que não pôde fornecer mais detalhes, pois isso violaria as regulamentações brasileiras de acesso a dados. O Carrefour não forneceu informações sobre se as fazendas em questão poderiam ser fornecedoras indiretas.

A Mighty Earth está solicitando:

  • Que a JBS, a Marfrig, a Minerva e outros frigoríficos investiguem suas alegações e suspendam imediatamente todos os fornecedores diretos e indiretos envolvidos em desmatamento — incluindo o uso generalizado de herbicidas tóxicos, que não apenas desmatam, mas poluem ecossistemas inteiros, afetando a vida selvagem e as comunidades.
  • Que os frigoríficos divulguem urgentemente, em uma plataforma pública, o volume e a origem do gado — incluindo listas de todas as fazendas diretas e indiretas e a proporção de gado proveniente de fazendas com Zero Desmatamento e Conversão (ZDC) — e submetam todos os casos de desmatamento ou violações de direitos humanos através de um mecanismo público de reclamações para monitorar o progresso, engajamento e suspensão de cada fornecedor não conforme.
  • Que o Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí encerrem todos os relacionamentos comerciais diretos ou indiretos com frigoríficos como JBS, Marfrig e Minerva envolvidos em desmatamento generalizado ou conversão de ecossistemas.
  • Que os supermercados suspendam imediatamente os frigoríficos identificados neste relatório como expostos às maiores taxas de desmatamento de 2021 a 2023, até que sua cadeia de fornecimento esteja limpa de forma independente e verificável.
  • Que os supermercados submetam todos os casos de desmatamento a um mecanismo público de reclamações para monitorar a suspensão de todas as fazendas não conformes.
  • Que os supermercados divulguem imediatamente em uma plataforma pública o volume e a origem de seus produtos que contêm carne bovina — incluindo detalhes dos frigoríficos, listas de fornecedores diretos e indiretos de fazendas, e a proporção de produtos de carne bovina provenientes de uma cadeia de fornecimento de carne bovina ZDC verificada.

Fim

Notas para os editores:

Link para imagens e gráficos aqui

Veja Resposta Rápida Pecuária #3: Monitoramento do desmatamento nas cadeias de suprimento brasileiras, agosto de 2024, aqui

Resumo das principais conclusões:

  • 4.651 hectares de desmatamento e conversão recente em cinco fazendas nos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal, diretamente ou indiretamente ligados à JBS, Marfrig e Minerva, que fornecem produtos de carne bovina para os quatro principais varejistas no Brasil – Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí.
  • 86% da destruição nessas cinco fazendas de outubro de 2023 a fevereiro de 2024 ocorreu no Pantanal.
  • A investigação mais ampla revelou que 27 frigoríficos da JBS que fornecem produtos de carne para os supermercados Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí estão ligados a quase 470.000 hectares de desmatamento na Amazônia e no Cerrado entre 2009 e 2023.
  • Incluindo nove frigoríficos associados à Marfrig e Minerva, a área total de floresta e vegetação natural perdida em quase quinze anos de destruição é de mais de 550.000 hectares. Deste total, 45% estão na Amazônia e 55% no Cerrado, o bioma mais ameaçado dos dois.
  • A Mighty Earth, AidEnvironment e Repórter Brasil investigaram uma amostra total de 1.641 produtos de carne bovina encontrados em supermercados brasileiros e associaram esses produtos a 157 frigoríficos em todo o Brasil, operados por 108 frigoríficos.
  • Usando o aplicativo ‘Do Pasto ao Prato‘, os dados foram coletados em 120 lojas do Carrefour, Casino/GPA, Grupo Mateus e Sendas/Assaí em 52 cidades de 21 estados brasileiros. Desses 157 frigoríficos, 45 estão na Amazônia Legal.
  • Utilizando os dados do Guia de Transporte Animal (GTA) cobrindo sete estados no Brasil, a análise identificou 3.113 fornecedores diretos e 8.433 fornecedores indiretos de gado para 36 frigoríficos, sendo 27 pertencentes à JBS, quatro à Marfrig e cinco à Minerva.
  • A análise para 2009 – 2023 encontrou 181.167 hectares de desmatamento associados a fornecedores diretos potenciais e 368.859 hectares associados a fornecedores indiretos potenciais para os 36 frigoríficos, na Amazônia e no Cerrado, que está desaparecendo duas vezes mais rápido que a Amazônia, em grande parte devido à pecuária e ao cultivo de soja para alimentar animais em sistemas intensivos de pecuária na Europa e além.

Como funciona o Rapid Response

O programa Rapid Response monitora o desmatamento recente nas cadeias de fornecimento de carne bovina e soja no Brasil com o objetivo de interromper proativamente o desmatamento, degradação e exploração madeireira em seus estágios iniciais. A Mighty Earth, em parceria com a Repórter Brasil e a AidEnvironment, monitora dezenas de milhões de hectares na fronteira agrícola em todo o Brasil. Quando o desmatamento é detectado nas cadeias de fornecimento de grandes empresas de carne e soja, alertas são enviados para essas empresas, seus clientes varejistas e financiadores, para pressioná-los a agir sobre o desmatamento em suas cadeias de fornecimento, alertando as empresas e instando-as a cessar o comércio com frigoríficos e fazendas de soja vinculados a incêndios ou desmatamentos recentes que foram confirmados visualmente. O objetivo do Rapid Response é evitar que centenas de hectares de desmatamento se tornem milhares.

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