Link para o Monitor de Desmatamento de Soja e Gado (incluindo Tracker e Scorecard)
Link para o relatório Rapid Response #4 Soja
Bunge, Cargill e JBS formam o “Trio Terrível” classificado como as empresas mais conectadas com o desmatamento no Brasil de acordo com o recém-lançado Tracker de Desmatamento de Soja e Gado da Mighty Earth. A nova ferramenta classifica dez das maiores empresas de soja e carne do mundo em suas ligações com casos de desmatamento na Amazônia, Cerrado e Pantanal. As empresas Bunge e Cargill, ambas dos Estados Unidos, são as traders de soja ligadas com a maior quantidade de hectares desmatados, já a gigante brasileira de carne bovina JBS é a pior entre os frigoríficos.
Apoiado por um banco de dados de 172 casos recentes relatados pelas organizações AidEnvironment e Mighty Earth, o rastreador conecta dez grandes traders de soja e frigoríficos a 330.296 hectares de desmatamento recente e degradação nos três biomas nos últimos dois anos (fevereiro de 2022 a julho de 2024) – uma área com o dobro do tamanho da cidade de Londres.
A Bunge, classificada como a pior empresa em área desmatada, está potencialmente ligada a 224.181 hectares de devastação, com um quarto desse desmatamento acontecendo em áreas protegidas. A Cargill provavelmente está ligada a 133.256 hectares, com 85% desse desmatamento ocorrendo no Cerrado. A JBS é a principal impulsionadora do desmatamento entre os frigoríficos, com possíveis ligações a 118.310 hectares de desmatamento, com três quartos disso ocorrendo na Amazônia.
Os novos dados mostram que, longe de atingir suas metas e compromissos de cadeias de suprimentos livres de desmatamento e conversão até 2025, a indústria da proteína continua a travar uma guerra contra a natureza, com o desmatamento aumentando a um ritmo alarmante. Um terço desse desmatamento ocorreu em áreas protegidas, tornando-o potencialmente ilegal de acordo com o Código Florestal, e 66.129 hectares ocorreram nas proximidades ou na fronteira com terras indígenas.
Os dados usados para o Tracker representam um retrato da extensa destruição que está acontecendo em todo o Brasil, que na realidade é muito maior.
Acompanhando o Tracker, a Mighty Earth também está lançando um novo Scorecard para marcar um ano da implantação do seu programa Rapid Response, que monitora o desmatamento no Brasil ligado as grandes empresas globais de proteína. O novo Scorecard avalia como as empresas responderam aos alertas de desmatamento do primeiro ano do Rapid Response da Mighty Earth, e destaca a inação e a falta de compromisso dos traders de soja e frigoríficos no combate ao desmatamento em suas cadeias de suprimentos. Avaliando quatro categorias – Responsividade, Transparência, Ação e Política de Desmatamento e Conversão Zero (DCF), o ranking teve a JBS como a pior colocada. A empresa obteve apenas 10 pontos, em um total de 100 pontos, seguida da Cargill com 11 pontos e da Bunge com 31 pontos.
A LDC foi a empresa que mais pontuou no Scorecard, totalizando 42 pontos em um placar máximo de 100. Pelos critérios do Scorecard a LDC obteve a maior pontuação na categoria Política Livre de Desmatamento e Conversão, enquanto a ADM, segunda colocada, ganhou pontos na categoria Transparência, por ser a única empresa a publicar esses casos de desmatamento em um registro público de reclamações.
Comentando sobre o lançamento do Tracker e Scorecard de Desmatamento de Soja e Gado, João Gonçalves, Diretor Sênior da Mighty Earth para o Brasil, disse:
“Nosso novo Tracker de Desmatamento de Soja e Gado revela o ‘Terrível Trio’ da Bunge, Cargill e JBS como as empresas possivelmente mais conectadas com o desmatamento no Brasil, evidenciando a falta de transparência e compromisso para limpar suas cadeias de suprimento da contaminação pelo desmatamento.”
“Só os dados de desmatamento recente que levantamos aponta que uma área com o dobro do tamanho de Londres foi destruída na Amazônia, Cerrado e Pantanal, evidenciando que a indústria da proteína continua a travar sua guerra contra a natureza, ameaçando não só nossos biomas, mas também comunidades indígenas e tradicionais.”
“Acompanhando o Tracker de Desmatamento, nosso novo Scorecard avalia como as empresas responderam aos alertas de desmatamento registrados no ano passado, sendo a JBS e a Cargill as que obtiveram menos pontos.”
“Com tudo o que o Brasil experimentou este ano – incêndios florestais recordes, inundações e secas – os traders de soja e gado precisam parar urgentemente de comprar de fazendas envolvidas no desmatamento, que alimentam o aquecimento global e agravam a crise climática e da natureza.”
Joana Faggin, líder da equipe de cadeias de suprimentos livres de desmatamento da AidEnvironment, disse:
“Um dos objetivos do Sistema de Monitoramento do Desmatamento em Tempo Real (RDM) da AidEnvironment é analisar dados disponíveis publicamente para gerar mais transparência nas cadeias de suprimentos de commodities e fortalecer a implementação de compromissos de rastreabilidade e desmatamento zero, sejam voluntários ou juridicamente vinculativos. Isso permite que a Mighty Earth use a análise RDM para se envolver diretamente com comerciantes globais de soja e frigoríficos.”
Lançado junto com o Tracker e o Scorecard, o novo relatório de monitoramento de soja Rapid Response da Mighty Earth revela que as taxas de desmatamento ligadas à soja são quase três vezes maiores no Cerrado do que na Amazônia. A análise constatou que 25.207 hectares de alertas de desmatamento vinculados à soja foram registrados no Cerrado, de janeiro a abril de 2024, em comparação com 8.782 hectares de alertas de desmatamento e degradação causados pela soja na Amazônia no mesmo período.
O relatório traz a análise de sete fazendas onde ocorreram alertas de desmatamento e degradação entre janeiro e abril deste ano, sendo cinco delas no Cerrado. Estes casos totalizaram 11.768 hectares em fazendas previamente plantadas com soja e localizadas em um raio de 50 quilômetros de silos de grãos pertencentes a sete traders globais de soja – ADM, ALZ Grãos, Amaggi, Bunge, Cargill, Cofco e LDC. A análise encontrou 7.383 hectares de desmatamento recente em uma única fazenda em uma área de conservação de prioridade extremamente alta no Cerrado, com uma provável ligação com os comerciantes de soja Bunge e ALZ Grãos.
Lar de cinco por cento da biodiversidade mundial, o Cerrado é um dos biomas mais ameaçados do planeta. Em grande parte desprotegido pela legislação brasileira, o Cerrado é mais vulnerável ao colapso de seu ecossistema do que a Amazônia. Mais da metade do Cerrado foi perdida, levada pela indústria da carne para pastar gado e cultivar soja como ração animal para pecuária intensiva na Europa, China e além.
A Europa é um mercado-chave para a soja brasileira, com exportações de soja e bagaço de soja/óleo subindo 6,3% de janeiro a setembro de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. As exportações de soja para Alemanha, Espanha, França, Holanda e Reino Unido aumentaram 20% nos primeiros nove meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Cerca de metade da soja brasileira exportada para o Reino Unido e a Alemanha vem do Cerrado. E as exportações brasileiras de soja e farelo de soja para a Espanha aumentaram impressionantes 39% este ano em relação aos números de 2023.
Comentando sobre o último relatório de Resposta Rápida, Mariana Gameiro, Conselheira Sênior (Brasil) da Mighty Earth, disse:
“Nossa análise mostra que a vulnerabilidade do Cerrado em relação ao desmatamento causado pela soja é quase três vezes maior do que na Amazônia. No entanto, os recentes ataques à Moratória da Soja na Amazônia e ao Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR) aumentam o risco de mais desmatamento e degradação na Amazônia.”
“A soja brasileira continua a fluir para a Europa com exportações em alta de mais de 6%, tornando a Europa cúmplice da destruição desses biomas críticos. Os varejistas europeus e as indústrias de carne, laticínios e ração animal devem tomar medidas imediatas para romper os laços comerciais com os principais fornecedores de soja ligados ao desmatamento.”
O Tracker, o Scorecard e o relatório Rapid Response Soja são divulgados no momento em que a proteção florestal sofre mais ataques políticos à Moratória da Soja na Amazônia no Brasil e ao Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), com parlamentares votando recentemente para adiar a legislação por um ano.