Grandes supermercados europeus investigam ligação da gigante americana Bunge com o desmatamento do Cerrado

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Supermercados atuam com base em dados de novo relatório da Mighty Earth que relaciona a produção de soja da Bunge ao desmatamento de no mínimo 15.897 campos de futebol no Cerrado. 

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São Paulo, 21 de junho de 2023 – Grandes supermercados da Europa, incluindo Carrefour e Casino na França, Ahold Delhaize e Jumbo na Holanda e Aldi South na Alemanha, iniciaram investigações em resposta a um novo relatório da Mighty Earth ligando a gigante norte-americana Bunge ao desmatamento recente de 11.351 hectares no Cerrado, bioma que vem enfrentando recordes de desmatamento no ano. A reação das redes varejistas pode ser considerada um reflexo da aprovação do novo Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR). A EUDR fecha o cerco ao agronegócio brasileiro ao exigir que commodities vendidas para a Europa, como a soja e a carne, sejam 100% livres de desmatamento, com produtos rastreáveis até o nível da fazenda. 

“Grandes supermercados, como Carrefour e Casino, não querem ser associados à destruição de hotspots de biodiversidade, como o Cerrado. Consideramos a reação das empresas como um reflexo do novo regulamento europeu, que embora pressione mais os produtores brasileiros por transparência e rastreabilidade de commodities, ainda não é perfeito por não incluir em seu escopo três quartos do Cerrado”, afirma o diretor sênior da Mighty Earth no Brasil, João Gonçalves.  

A investigação da Mighty Earth, realizada em parceria com o Instituto Centro de Vida (ICV) e a Deutsche Umwelthilfe (DUH), com base em dados levantados pelo Repórter Brasil, comprovou a ligação da Bunge com três fornecedores com desmatamento recente no Cerrado. A relação foi confirmada por meio de notas fiscais que comprovam o transporte das cargas de grãos entre as três fazendas diretamente para silos da gigante norte-americana nos estados da Bahia e Piauí. Além desses casos, o relatório também apresenta cinco outros casos de desmatamento que totalizam 14.598 hectares de destruição no Cerrado. Identificados pela organização AidEnvironment, os casos ocorreram no início de 2023 em fazendas de municípios do Matopiba onde a Bunge é a principal exportadora de soja.  

Em resposta à Mighty Earth, a Bunge confirmou a compra recente de soja diretamente de quatro das oito fazendas identificadas com desmatamento e afirmou que as demais não integram sua cadeia de fornecimento. No entanto, a empresa não nomeou as fazendas, indicando apenas uma como fornecedor indireto. Com faturamento anual de US$ 67 bilhões, a Bunge exporta para a Europa grandes quantidades de soja produzida no Brasil. No geral, os grãos são utilizados para a produção de ração para animais em sistemas de criação intensiva, principalmente para carne bovina e suína, aves e laticínios, destinados aos principais supermercados e redes de restaurantes do bloco.  

“Traders de soja como a Bunge devem cumprir sua promessa de estar livres de desmatamento em suas cadeias de suprimentos até 2025 e cortar laços com fazendas que desmatam. Em 2022, a Bunge foi uma das oito tradings de soja que concordaram, na Cúpula do Clima (COP27), com um plano para limitar o aquecimento global a 1,5ºC e acabar com o desmatamento até 2025. Diante do que nossa investigação constatou e da resposta pífia que a empresa nos deu, é hora de todos os grandes varejistas abandonarem a Bunge”, incita o CEO da Mighty Earth, Glenn Hurowitz. 

A Mighty Earth apresentou as conclusões do relatório para 100 empresas do setor de alimentos sediadas nos quatro principais países importadores da soja brasileira na Europa: Alemanha, Espanha, França e Holanda. Dessas, 56 responderam e cinco confirmaram ligações com a soja da Bunge em suas cadeias de fornecimento: o Carrefour, um dos maiores varejistas do mundo; LDC, o maior grupo de carne de aves da Europa; os varejistas Les Mousquetaires e Super U na França; e o Jumbo na Holanda. Além do Carrefour e do Jumbo, os varejistas Casino (França), Ahold Delhaize (Holanda) e Aldi South (Alemanha) afirmaram começar a investigar os casos de desmatamento apresentados, cobrando respostas da Bunge. Já, o maior produtor de carne suína da França, o Cooperl, informou não comprar soja da Bunge. 

Apesar da reação das empresas mediante os casos de desmatamento no Cerrado, a Mighty Earth ressalta a importância do Cerrado e outros ecossistemas naturais serem incluídos no escopo do Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR). Atualmente, o novo regulamento só abrange desmatamento em áreas definidas e classificadas como “florestas” pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que são aquelas com árvores mais altas do que 5 metros e uma cobertura de copa de 5 a 10 por cento. A definição abrange quase a totalidade do bioma Amazônia, mas só inclui um quarto do Cerrado.  

“A não inclusão de savanas na legislação provavelmente levará ao aumento das taxas de desmatamento no Cerrado. Temos o risco de ver a pressão sobre o Cerrado aumentar ainda mais, deixando o caminho livre para que grandes comerciantes de soja, como Bunge e Cargill, continuem com os negócios como sempre, levando mais destruição ao Cerrado”, afirma o diretor sênior da Mighty Earth no Brasil. 

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